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Cultura popular em Juiz de Fora

A cidade de Juiz de Fora representa a diversidade cultural manifestada em tradições da população negra, de descendentes dos povos originários, bem como os diversos imigrantes que constituem nossa identidade. A memória desses grupos permanece viva por meio das heranças culturais que atravessaram temporalidades e que se expressam hoje em suas vivências, nos diferentes modos de sociabilidade, festas, saberes, expressões religiosas e culturais.
Dos blocos de ruas às escolas de samba, dos batuques às batalhas de hip-hop, das tradições às transversalidades, Juiz de Fora é cenário de importantes espaços de interação social e de diversidade cultural no país. A cidade desempenha um papel fundamental na construção das identidades e na dinâmica social, transgredindo narrativas, memórias e histórias “oficiais”. As praças, os parques e calçadões são espaços onde as pessoas se encontram, compartilham ideias e vivenciam manifestações culturais e artes diversas que fomentam a troca de experiências e fortalecem os laços entre as comunidades.
Esses locais refletem as múltiplas camadas históricas e culturais da cidade, que se constituem através das manifestações urbanas e que contribuem para enriquecer as vivências cotidianas e os diálogos interculturais. A arte dos grafites é expressada em diversos murais que compõem os espaços públicos, as travessias, os pontos de ônibus, as escolas entre outros lugares possíveis de se ocupar. No berço do hip-hop, o bairro Santa Cândida, na Zona Leste, destaca-se a cultura negra fortemente influenciada pela trajetória de Adenilde Petrina, militante do movimento negro e uma das criadoras do Coletivo Vozes da Rua, que por sua trajetória recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Juiz de Fora em 2017. A poesia que atravessa gerações desde 2004, com a Confraria dos Poetas, contribui fundamentalmente, ocupando escolas e espaços públicos. Para além do esporte, o skate também representa a ocupação de importantes espaços da cidade e a reivindicação de outras formas de pertencê-la.
No cenário do carnaval na cidade, fortemente influenciado pela mistura de ritmos originários dos povos africanos e presentes nos imaginários e cenários cariocas, a população reconquistou o espaço das ruas com a criação da escola de samba do Turunas do Riachuelo, em 1934, inspirada no bloco Turunas da Mauricéia, do Rio de Janeiro. Cabe destacar que a escola foi a primeira da cidade e a quarta do país, influenciando a criação de novas escolas. Nos dias atuais, as manifestações carnavalescas se mantêm vivas e presentes, representadas por desfiles de escolas de samba e diversos blocos de rua, incluindo a Banda Daki, referência para a tradição e patrimônio cultural imaterial da cidade.
No campo da musicalidade, o samba se manifesta de forma bastante presente nos ambientes públicos e privados de Juiz de Fora para além do período carnavalesco, conectando a população com o processo de identificação das identidades culturais, de preservação e continuidade do gênero musical como uma expressão cultural de fundamental importância. Em diversos bairros da cidade, o Movimento Samba de Mulheres na Praça reúne a população nas rodas de samba. No Beco da Cultura, corredor entre o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM) e a Biblioteca Municipal Murilo Mendes, bem como na praça de alimentação do Mercado Municipal, todos espaços integrantes do Complexo Mascarenhas, o Samba dos Amigos se apresenta em rodas com samba, pagode e chorinho, com a intenção de manter a tradição.
Não é possível falar sobre o samba sem mencionar o Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva, registrado como patrimônio cultural imaterial do município desde 2007. Criado em 1964, mesmo ano do golpe militar que saía das ruas de Juiz de Fora, o grupo se dedica a resgatar a história e valorizar a cultura negra em Juiz de Fora por meio dos ritmos, da dança, da arte, da cultura e da resistência com as expressões dos batuques, dos instrumentos e dos sambas em mais de 80 composições. Podemos citar também outras manifestações culturais bastante presentes e que compõem os cenários das tradições, como as Folias de Reis e as práticas ancestrais de Capoeira.
Segundo o último levantamento realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), Juiz de Fora possui 11 Folias de Reis cadastradas, que fazem parte de uma das celebrações mais antigas de Minas Gerais. As manifestações culturais-religiosas são formadas por cantadores e tocadores que se apresentam com caracterizações influenciadas por suas regiões, com instrumentos como a viola, o violão, o cavaquinho, o pandeiro, os bumbos, a sanfona e as caixas. Em Juiz de Fora, as Folias são compostas por foliões e palhaços, organizadas com maior predominância na Zona Sul da cidade, em bairros como Ipiranga, Bela Aurora, Teixeiras, Santa Efigênia e Vale Verde (GONÇALVES, 2014, p. 52).
O Ofício dos Mestres de Capoeira e a Roda de Capoeira foram reconhecidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural do Brasil em 2008. Já em Juiz de Fora, que possui papel central na região da Zona da Mata, com um número expressivo de capoeiristas, conforme dados do Cadastro Nacional da Capoeira (CNC/Iphan-MG), a Roda de Capoeira é patrimônio imaterial desde 2024. Assim, a capoeira também compõe o cenário de diversidade cultural da cidade, com posição relevante no processo de transformação e difusão histórica dessa prática e saber ancestral. Segundo Jefferson Gomes Nogueira, o primeiro mestre reconhecido em Belo Horizonte, Toninho Cavalieri, aprendeu o saber e o aprimorou em Juiz de Fora, tendo papel fundamental na formação de capoeiristas da capital (NOGUEIRA, 2021).
À medida que identificamos práticas e representações que constituem Juiz de Fora, evidenciamos ainda, outras memórias que perpassam tentativas de silenciamentos, mas que, ao mesmo tempo, rompem com normativas homogêneas socialmente impostas. Nesse contexto, o Concurso Miss Gay Brasil é uma importante expressão cultural desde 1977, representando, com suas performances, a multiplicidade de referências culturais, músicas, estilos, vestimentas e caracterização dos diferentes sujeitos e diferentes estados, de modo a promover o respeito aos elementos que abarcam a cultura LGBTQIAPN+. Vale ressaltar que tais representações se relacionam diretamente com os avanços das políticas públicas em defesa dessa população, como a sanção da Lei 9.791 em 12 de maio de 2000, popularmente conhecida como “Lei Rosa”, que pune práticas discriminatórias contra os sujeitos LGBT+.
Referências bibliográficas:
GONÇALVES, Gabriela Marques. Cultura popular e comunicação: a Folia de Reis em bairros populares de Juiz de Fora. 2014.
NOGUEIRA, Jefferson Gomes. Berimbau chamou Camará! A história da capoeiragem mineira: Juiz de Fora (1958-1980). Coleção História da capoeira de Juiz de Fora. Vol.01. Curitiba: CRV, 2021.190p.
Equipe técnica de elaboração:
Carine Silva Muguet – Historiadora, supervisora de Pesquisa e Educação Patrimonial – Dempac/Funalfa
Flaviana Lopes Ribeiro de Oliveira – Estagiária de História Dempac/Funalfa
Lara Ferreira de Oliveira – Estagiária de História Dempac/Funalfa