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A formação cultural de Juiz de Fora

Movimento "Mascarenhas Meu Amor" - Foto Heitor Magaldi (reprodução)

A origem da cidade de Juiz de Fora relaciona-se à construção do Caminho Novo, antiga estrada que conectava a região das minas ao Rio de Janeiro, a fim de implementar rotas alternativas para o escoamento do ouro da região e evitar o contrabando ou o não pagamento dos tributos. Essas rotas do Caminho eram formadas por matas fechadas habitadas por indígenas puris e coroados, caracterizadas como formas de aldeamento de povos originários que viviam na região, tanto para o trabalho forçado como para sua aculturação. A Coroa, por sua vez, utilizava a existência dessas populações na Zona da Mata para enfatizar as formas de proibir a circulação, com o intuito de diminuir o contrabando de ouro, a partir da narrativa da violência desses povos.

Em 1835, o engenheiro alemão Henrique Halfeld, considerado pela historiografia tradicional como um dos “pioneiros”, foi responsável pela construção da Estrada do Paraibuna, em cujos canteiros de obras dominaram o trabalho escravo com margens expressivas de lucro e a acumulação de capital pelos “senhores” escravocratas (CRAVO; GODOY, 2019), incluindo o próprio Halfeld.

A Estrada do Paraibuna, posteriormente denominada “Rua Direita”, corresponde à atual Avenida Barão do Rio Branco, considerada uma das mais importantes vias no centro da cidade (MUSSE, 2008, p. 72). No entanto, o povoamento inicial emergiu à margem esquerda do rio Paraibuna, a partir de um núcleo composto pelo Morro da Boiada (hoje bairro Santo Antônio), pela Tapera e pela Fazenda do Juiz de Fora, esta na região do atual bairro Vitorino Braga. O centro do povoado se estendia entre o Morro da Boiada e a atual Rua Halfeld.

Em 31 de maio de 1850, diante da iminente necessidade de reconhecer e emancipar o vilarejo, que até então pertencia a Barbacena, criou-se a Vila de Santo Antônio do Paraibuna, em homenagem à paróquia do santo. Com isso, o rio, cujo nome de origem indígena significa “rio de águas escuras” (ESTEVES; Apud LAGE, 1989) e que dividia a região formada por morros e o centro pantanoso – devido aos seus constantes transbordamentos –, também passou a denominar o futuro município. Já em 1865, a cidade passou a se chamar Juiz de Fora (BASTOS, 2004, p. 73-75).

Nesse contexto de desenvolvimento, Juiz de Fora assumia outras funções, além da intensificação de suas atividades comerciais e de armazenamento e escoamento de café, acompanhando o desenvolvimento da Zona da Mata mineira no século XIX, que recebia ainda grande leva de imigrantes (GENOVEZ, 1998, p. 14). Cabe destacar que o incentivo de mão de obra imigrante fazia parte, primordialmente, de uma política de branqueamento pós-abolição da escravidão no Brasil.

Na esteira de desenvolvimento, os serviços urbanos foram incrementados com a instalação de bondes, a implantação de iluminação pública, a fundação do Banco do Crédito Real e a construção da primeira usina hidrelétrica da América Latina, a Usina de Marmelos, por iniciativa do industrial Bernardo Mascarenhas (OLIVEIRA, 1994, p. 45). As fábricas Fiação e Tecelagem Bernardo Mascarenhas, Industrial Mineira e Antônio Meurer, bem como a Companhia Pantaleone Arcuri impulsionaram o crescimento industrial da cidade, captando investimentos e proporcionando o destaque de Juiz de Fora na Zona da Mata, fazendo com que ela fosse denominada “Manchester Mineira”, em referência à cidade industrial inglesa de mesmo nome.

Referências bibliográficas:

BASTOS, Wilson de Lima. Caminho Novo: espinha dorsal de Minas. Juiz de Fora: Funalfa Edições, 2004.

CRAVO, Télio Anísio; GODOY, Marcelo Magalhães. Estado, transportes e mercado de trabalho: livres, libertos e escravos em obras públicas na província de Minas Gerais nas décadas de 1830-1840. Revista de História. São Paulo, n. 178, p. 1–30, jan./jun. 2019. Disponível em: https://revistas.usp.br/revhistoria/article/view/145694/177252. Acesso em: 22 maio 2025.

ESTEVES, Albino; LAGE, Oscar Vidal B.(Orgs). Álbum do Município de Juiz de Fora. [Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1915]. 2 ed. Juiz de Fora: PJF, 1989.

GENOVEZ, Patrícia Falco, LEITE, Mônica C. Henriques, GAWRYSZEWSKI, Paulo, FRAGA, Raquel de Oliveira. Núcleo Histórico e Arquitetônico da Rua Batista de Oliveira (parte central) e Avenida Getúlio Vargas. Nota prévia de pesquisa. Juiz de Fora: Clio Edições Eletrônicas, 1998. p. 20

MUSSE, Christina Ferraz. Imprensa, cultura e imaginário urbano: exercício de memória sobre os anos 60/70 em Juiz de Fora. Nankin Editorial, 2008, p. 72.

OLIVEIRA, Mônica Ribeiro de. Juiz de Fora: vivendo a história. Juiz de Fora: Núcleo de História Regional da UFJF/Editora da UFJF, 1994.

Equipe técnica de elaboração:

Carine Silva Muguet – Historiadora, supervisora de Pesquisa e Educação Patrimonial – Dempac/Funalfa

Flaviana Lopes Ribeiro de Oliveira – Estagiária de História Dempac/Funalfa

Lara Ferreira de Oliveira – Estagiária de História Dempac/Funalfa